sábado, 9 de janeiro de 2010

O CORVO



( cliquem na foto é importante visualiza-lo )



Essa madrugada visitando aleatóriamente descobri o Blog Panorama
(http://panorama-direitoliteratura.blogspot.com/ )
onde me deparei com uma poesia de Edgar Allan Poe (1809-1849)
me lembrei do Corvo que insistia em nos acompanhar durante nosso passeio no Grand Canyon
Ele se apresentava de maneira diferente , porisso nos chamou atenção e porisso a foto.
Talvez lendo a poesia hoje pude compreender o motivo ...



O C O R V O

Edgar Allan Poe


Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
“É alguém”, fiquei a murmurar, “que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais”.



Ah! claramente eu o relembro! Era no gélido dezembro
e o fogo, agônico, animava o chão de sombras fantasmais.
Ansiava ver a noite finda, em vão a ler, buscava ainda
algum remédio à amarga, infinda, atroz saudade de Lenora
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora
e nome aqui já não tem mais.



A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina,
arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais.
De susto, de pávida arritmia, o coração veloz batia
e a sossegá-lo eu repetia: “É um visitante e pede abrigo.
Chegando tarde, algum amigo está a bater e pede abrigo.
É apenas isso e nada mais”.



Ergui-me após e, calmo enfim, sem hesitar, falei assim:
“Perdoai, senhora, ou meu senhor, se há muito aí fora me esperais;
mas é que estava adormecido e foi tão débil o batido,
que eu mal podia ter ouvido alguém chamar à minha porta,
assim de leve, em hora morta”. Escancarei então a porta:
escuridão, e nada mais.



Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo, a perquiri-la,
sonhando sonhos que ninguém, ninguém ousou sonhar iguais.
Estarrecido de ânsia e medo, ante o negror imoto e quedo,
só um nome ouvi (quase em segredo eu o dizia) e foi: “Lenora!”
E o eco, em voz evocadora, o repetiu também: “Lenora!”
Depois, silêncio e nada mais.



Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente,
mais forte o ruído recomeça e repercute nos vitrais.
“É na janela”, penso então. “Por que agitar-me de aflição?
Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento,
o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento.
É o vento só e nada mais”.



Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
- é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e, sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto – uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.



Ao ver da ave austera a soleníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus ais.
“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” – então lhe digo –
“não tens pavor. Fala comigo, alma da noite, espectro torvo,
qual é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.



Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais;
pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua porta,
uma ave (ou fera, pouco importa), empoleirada em sua porta
e que se chama: “Nunca mais!”.



Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,
com a alma inteira a se espelhar naquelas sílabas fatais.
Murmuro, então, vendo-a serena e sem mover uma só pena,
enquanto a mágoa me envenena: “Amigos... sempre vão-se embora.
Como a esperança, ao vir a aurora, ELE também há de ir-se embora”.
E disse o Corvo: “Nunca mais”.



Vara o silêncio, com tal nexo, essa resposta que, perplexo,
julgo: “É só isso o que ele diz; duas palavras sempre iguais.
Soube-as de um dono a quem tortura uma implacável desventura
e a quem, repleto de amargura, apenas resta um ritornelo
de seu cantor; do morto anelo, um epitáfio: o ritornelo
de ‘Nunca, nunca, nunca mais’ ”.



Como ainda ó Corvo me mudasse em um sorriso a triste face,
girei então numa poltrona, em frente ao busto, à ave, aos umbrais,
e, mergulhando no coxim, pus-me a inquirir (pois, para mim,
visava a algum secreto fim) que pretendia o antigo Corvo,
com que intenções, horrendo, torvo, esse ominoso e antigo Corvo
grasnava sempre: “Nunca mais”.



Sentindo da ave, incandescente, o olhar queimar-me fixamente,
eu me abismava, absorto e mudo, em deduções conjeturais.
Cismava, a fronte reclinada, a descansar, sobre a almofada
dessa poltrona aveludada em que a luz cai suavemente,
dessa poltrona em que ELA, ausente, à luz que cai suavemente,
já não repousa, ah! nunca mais...



O ar pareceu-me então mais denso e perfumado, qual se incenso
ali descesse a esparzir turibulários celestiais.
“Mísero!”, exclamo. “Enfim teu Deus te dá, mandando os anjos seus
esquecimentos, lá dos céus, para as saudades de Lenora.
Sorve o nepentes. Sorve-o, agora! Esquece, olvida essa Lenora!
E o Corvo disse: “Nunca mais”.



“Profeta!”, brado. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal
que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais,
e algum naufrágio, a esta maldita e estéril terra, a esta precita
mansão de horror, que o horror habita – imploro, dize-mo, em verdade:
EXISTE um bálsamo em Galaad? Imploro! dize-mo, em verdade!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.



“Profeta!”, exclamo. “Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal!
Pelo alto céu, por esse Deus que adoram todos os mortais,
Fala se esta alma sob o guante atroz da dor, no Éden distante,
Verá a deusa fulgurante a quem nos céus chamam Lenora.
- essa, mais bela do que a aurora, a quem nos céus chamam Lenora!”
E o Corvo disse: “Nunca mais”.



"Seja isso a nossa despedida!”, ergo-me e grito, alma incendiada.
“Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais!
Nem leve pluma de ti reste aqui, que tal mentira ateste!
Deixa-me só nesse ermo agreste! Alça teu vôo dessa porta!
Retira a garra que me corta o peito e vai-te dessa porta!”
E o Corvo disse: “Nunca mais!”



E lá ficou! Hirto, sombrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,
sobre o alvo busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.
No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal, em sonhos, dorme,
e a luz da lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.
Nela, que ondula sobre a alfombra, está minha alma;
e, presa à sombra,não há de erguer-se, ai! nunca mais!


8 comentários:

Anônimo disse...

Nunca diga NUNCA MAIS!

El Brujo - Rock disse...

Curiosas coincidências... Gostos parecidos!

Também tem essa...
http://burrowwolf.blogspot.com/2007/09/teu-bruxo-em-tuas-noites.html

Deusa disse...

Eduardo
Muito dificil pra mim ter que manter o sorriso nos lábios enquanto meu coração chora escondido.
Um abraço

Hod disse...

Corvos, Lobos, Tantra...!!

Quando o díscipulo ascende os metres aparem..!!

Forte Abraço e bom domingo!!

Hod.

Deusa disse...

Verdade Bruxo
Sempre acessorados por nossos animais de poder !!
Beijo ...

Deusa disse...

Oi querido Hod

reunião de bruxos aqui..rs
um sempre reconhece o outro
mesmo no ciberespaço
beijo meu querido

El Brujo - Rock disse...

Na mitologia grega, os corvos eram originalmente brancos e eram os mensageiros de Apolo. Até que certo dia, trouxeram-lhe más notícias e a fúria deste deus os chamuscou de preto.

Para os celtas, o corvo também era inicialmente branco. Pássaro associado ao deus Lugh, que tinha a missão de vigiar para que nenhum mortal se aproximasse do leito da amante grávida deste deus. Mas, como toda mulher consegue o que quer quando é determinada, fez com que o corvo silenciasse sobre uma noite que havia passado nos braços de um pastor. Quando interrogado, o pobre corvo mentiu e o deus da adivinhação, furioso, condenou-o a ter a plumagem negra e a lhe obedecer cegamente daquele dia em diante. Esta lenda é representativa de quando mal pode acarretar uma mentira, pois neste momento a consciência se separa da divindade que existe nela. A consciência pode ser iluminada com a luz da verdade, ou sombria com a plumagem negra da mentira.

O corvo na tradição celta também tem papel profético. Era considerado animal sagrado entre os gauleses, bretões, gauleses e gaélicos. Considerado um pássaro celeste, do Sol e da luz, mas também tem lugar preponderante no lado sombrio de todos nós. A "sabedoria do corvo", para os irlandeses significava o conhecimento supremo.

El Brujo - Rock disse...

Melhoras pro seu pai...